2015 - Ano Internacional da Luz
Concurso para a Rede de Escolas Associadas da UNESCO
Lamentamos o facto de ter sido a única concorrente do Agrupamento. Por isso, a Rita está de parabéns!
Descobertas inesperadas
O dia da
partida, em direção à casa de praia do meu avô, amanheceu lindo, o sol
brilhava. A luz radiante que este emitia penetrava por entre as janelas
transparentes de vidro cristalino, as nuvens espaireciam no céu como penas
brancas e suaves, e ouvia-se o chilrear dos passarinhos que voavam rasgando o
céu esbelto e azul.
Estava
a acabar de fazer as malas e arranjar-me para passar umas belas férias, apenas
eu e o meu avô, até que alguém interrompe o silêncio com um buzinar, era a
minha boleia...
- Rita, não te
demores! Eu combinei com o teu avô que estarias em casa dele antes do almoço!
Hmm...e traz-me a garrafa de água, que está em cima do balcão da cozinha, para
bebermos durante a viagem... – gritava a minha mãe apressadamente a ver se não
nos esquecíamos de nada...
Durante a nossa viagem de carro não se falou nada de
nada, apenas se ouvia a música da rádio a tocar e a voz da minha mãe a sussurrar,
pensando para si mesma se iríamos chegar a tempo do almoço.
Depois de termos feito muitos quilómetros e algumas
paragens, apercebi-me que estávamos a pouco tempo de chegarmos, pois tinha
avistado uma placa que dizia “Palmeiras 8 km”. Era a praia onde o meu avô vivia
com a minha avó, mas esta já tinha falecido há menos de três meses com leucemia.
O tempo passa a voar...mas ainda me lembro do que ela me dizia : “ Vive um dia
de cada vez, pois amanhã já não voltarás a vivê-lo”. Ela era uma senhora muito
simples, não se importava de usar qualquer trapo, já que tudo lhe agradava. Eu admirava muito esta
minha avó! Tinha resposta para tudo como se soubesse sempre o que lhe iriam
dizer. Era ainda uma pessoa muito culta...sabia todos os provérbios que
existiam.
Tínhamos
acabado agora mesmo de chegar...tanta preocupação para nada! Era apenas meio
dia, a hora em que o meu avô costumava acabar de fazer o almoço e preparar
tudo.
Mal
saí do carro, comecei por apreciar aquela linda e doce paisagem que me
rodeava...aquele sítio, sim, era o meu lugar favorito, por isso é que eu gostava tanto de passar
férias ali.
- Vem-me já
ajudar com as malas! – ordenou a minha mãe.
Quando
peguei na minha bagagem, reparei que o meu avô olhava pela janela da cozinha
para ver se já teríamos chegado. Foi então que lhe comecei a acenar, até que
nos avistou e foi abrir a porta.
Entrei e reparei logo que a casa estava na mesma, não
tinha mudado nada desde a última vez que lá estivera. O hall com fotos do meu
avô com a avó, outras com eles e os restantes membros da família. A sala, a
cozinha e os quartos com aquele cheiro a bafio e a ferrugem de serem antigos, e
ainda várias coleções como pinturas, objetos valiosos, ( joias, copos de
cristais, discos, livros...) os quais possuíam, por cima deles, uma grande acumulação de pó...
Tínhamos acabado de almoçar todos juntos e a minha mãe
já se ia embora para descansar, porque, no dia seguinte, era dia de trabalho.
Ficámos apenas nós, eu e o meu avô, no sofá, a ouvir
rádio, pois eu sabia que o meu avô detestava ver televisão...ele sempre foi um homem muito
conservador, tal como era a minha avó que gostava de ler um bom livro de poesia
e, depois de o ter lido todo, adorava declamá-lo às outras pessoas.
Quando anoiteceu, a minha mãe telefonou a dizer que a
viagem de regresso tinha corrido muito bem. Logo depois fui dar um beijinho de
boa noite ao meu avô, pois estava muito cansada da viagem que tinha sido muito
longa.
Mal me deitara na cama, adormeci que nem um
pedra, mas a meio da noite acabei por acordar com o som dos navios que seguiam
uma luz branca, forte e cintilante que parecia mover-se e se encontrava apontada para o mar. Fiquei
curiosa, pois nunca tinha visto nada assim.
Discretamente,
vesti-me e calcei-me, mas quando ia a sair, apercebi-me que precisava de uma
lanterna, estava demasiado escuro. Então fui buscá-la à garagem, lá sim,
deveria haver uma. Entrei e vi a
lanterna que estava em cima de um armário cheio de caixas, por isso peguei no
escadote e abri-o para lá chegar. Como já tinha o que queria, fiz-me ao caminho
sem que o meu avô soubesse e segui a luz. Quando finalmente me aproximei,
reparei que o que me cegava era um farol, cuja luz guiava e orientava todos os
barcos que passavam por aquela zona. Este era comprido, possuía umas riscas
largas em branco e vermelho, no cimo tinha uma divisão parecida com uma cúpula
em vidro, onde se encontrava a tal luz, e, por fim, no cimo de tudo, uma
“antena” em forma de “chapéu”. Enquanto o observava atentamente, apercebi-me
que na sua lateral se encontrava uma pequena porta. Então, decidi entrar e
assustei-me, pois eram dezenas e dezenas de escadas, parecia-me que nunca mais
acabavam. Depois de uma breve hesitação, acabei por subi-las, até que, finalmente,
cheguei ao compartimento onde se encontrava a grande “lâmpada” que emitia a luz
branca. Dali a paisagem do mar era magnífica e conseguiam-se avistar todos os
barcos que por ali passavam. Ao olhar para o meu lado direito, vi uma caixa com
um livro intitulado “Diário de Alfredo Ramos”. Cheguei à conclusão que era o
diário do meu avô dos tempos de marinheiro. Ali estavam descritas todas as suas
grandes aventuras que tivera por entre mares, os seus sonhos, as suas
dificuldades e obstáculos... Enquanto
desfolhava o livro, uma página deste chamou-me a atenção, lá dizia que o meu avó
foi o faroleiro e cuidou daquele farol
ao longo daqueles anos todos.
Começou a amanhecer e a luz do farol desligou-se. Eu
tinha que ir para casa antes que o meu avô acordasse, por isso levei o diário,
pois sabia o quanto este deveria ser importante para ele. Comecei a correr até chegar ao destino.
Mais tarde, na hora do almoço, perguntei ao meu avô se
alguma vez tivera um diário, ele respondeu que sim, mas que já não sabia dele.
Mal acabou de dizer estas palavras, entreguei-lho e disse-lhe: “Espero que
gostes”. O meu avô muito surpreso agradeceu- me. Passou o resto do dia a falar
das suas grandes aventuras e explicou que, desde a Antiguidade, eram acesas fogueiras ou
grandes luzes de azeite a servir de faróis e que estes foram concebidos para
avisar os navegadores da aproximação de terra, ou de porções de terra,
que irrompiam pelo mar adentro.
As fontes de alimentação da luz
foram melhorando, tendo o azeite sido substituído pelo petróleo e pelo gás, e
posteriormente, pela eletricidade.
Paralelamente, foram inventados vários aparelhos óticos, que conjugavam
espelhos, refletores e lentes, montados em mecanismos de rotação, não só para
melhorar o alcance da luz, como para proporcionar os períodos de luz e
obscuridade, que permitiam distinguir um farol de outro. Acrescentou
ainda que cada farol tem a sua individualidade dada pela luz que emite, pela
forma como é transmitida e pelo sinal sonoro difundido.
Aquelas férias serviram para ficar a
conhecer ainda mais o meu avô e compreender
a importância dos faróis para a arte de navegar.
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